quarta-feira, 24 de junho de 2015

Grupo de estudos Arquetelos - Inscrições abertas!

"O que precisamos é o desenvolvimento do homem espiritual interior, cujos tesouros estão escondidos nos símbolos da nossa tradição mítica e na psique inconsciente do homem."
"O homem sempre viveu no mito e agora se crê que podemos nascer e viver sem mitos e sem história. Isso é uma mutilação do ser humano." - Carl Gustav Jung 

Quem quer conhecer a mente humana deve conhecer os mitos. Conhecer as histórias fundadoras das nossas tradições e instituições sociais, as narrativas que explicam a ativação dos complexos, o fluxo da energia psíquica e seus intrincados caminhos, compreender determinados padrões de comportamento ou sentimento, tudo isso é possível através de um conhecimento mais aprimorado da mitologia.

O Grupo de Estudos Arquetelos foi formado com essa missão: Aprender mitologias comparadas, debater temas do nosso cotidiano à luz da mitologia e desenvolver trabalhos transdisciplinares através dessa abordagem.

Estrutura
Como se estuda mitologia comparada? 

Através de mitologemas (ou mitemas) que são temas básicos presentes na maioria das mitologias do mundo. Exemplos de mitologemas são: "O nascimento complicado do herói", "A Grande Mãe nutridora/pantanosa", "O Grande Pai criador/castrador", "A Criança sagrada/maldita", "O Velho sábio/louco", "Mergulhos nas trevas e enfrentamento de dragões/monstros/serpentes", "Mitos de criação do mundo", "Mitos de trapaça e trapaceiros(Tricksters)" e tantos outros

Por que essa abordagem foi escolhida para esse grupo de estudos?

A primeira versão desse grupo de estudos estava focada em ensinar, do início ao fim (De Caos a Ulisses) toda a mitologia grega para, posteriormente, passarmos para outra mitologia, no caso a Egípcia, e daí seguiríamos adiante. O que ocorre é que o foco na mitologia grega não dava uma leitura suficientemente vasta dos mitologemas que gostaríamos de desenvolver. O estudo por mitologemas é mais abrangente e agrada a pessoas que queiram aprofundar seus estudos sobre outras mitologias e trazer para debatermos e estudarmos em grupo. Dessa forma teremos mais riqueza nas trocas efetuadas nos encontros, além de dar liberdade para que cada membro possa estudar a divindade ou mitologia que melhor lhe interesse, mantendo um recorte mínimo, que é o mitologema.

Como serão feitos os encontros?

Os encontros serão feitos semanalmente das 19:00 às 22:00 na casa do Renato Kress (autor da postagem e criador do grupo de estudos). O primeiro encontro de cada um será


Como é isso de publicar? 

Os alunos interessados poderão elaborar artigos, ensaios e estudos sobre os temas estudados e esses trabalhos serão publicados on-line nos blogs www.mitoemente.blogspot.com e aqui no www.arquetelos.blogspot.com além de serem, também, enviados para a Associação Junguiana do Brasil, Cadernos Junguianos e demais instituições e publicações junguianas indicadas pelos participantes.

Estamos em negociação para publicarmos anualmente nossos ensaios, artigos e estudos impressos através da Ibis Libris editora a partir do fim de 2016.
É obrigatório publicar?

Não. Publica-se quem quiser. Quem tiver interesse em desenvolver um trabalho mais extenso e aprofundado sobre alguma das temáticas abordadas ao longo de nossos estudos terá seu trabalho revisado por outros membros do grupo e, então, poderá publicar.

As vantagem em publicar artigos, ensaios e trabalhos:
1. Divulgamos nossos saberes e pesquisas, podendo adquirir notoriedade por eles
2. Colocamos mais uma publicação em nosso currículo Lattes
3. Ganhamos algum dinheiro com nossos direitos autorais, claro.

Qual a estrutura dos encontros do grupo de estudos?

1ª aula: A cada primeiro encontro farei uma apresentação do mitologema que abordaremos nos nossos encontros ao longo dos próximos dois meses. Essa apresentação terá uma abordagem inicial do tema, do seu simbolismo e dos mitos que iremos estudar juntos. A seguir teremos contação de mitos e debate.

2ª aula até a penúltima aula do módulo: Teremos sempre três momentos. O primeiro com um espaço para dúvidas, sugestões e comentários sobre as leituras realizadas, o segundo uma apresentação de algum tema estudado pelos alunos e o terceiro um debate e desenvolvimento dos temas levantados. Antes do encerramento gosto de deixar o espaço aberto para que pelo menos um aluno possa contar um mito para todos os presentes. O treino do "contar mitos" é importante para desenvolvermos uma consciência de como é o ritual e de como é a transmissão do mito também.

Última aula do módulo: Teremos também três momentos importantes. O primeiro é a criação do "Mapa Mental" com todos os trabalhos de todos os alunos, abordando o mitologema que estudamos naquele módulo, o segundo um espaço para dúvidas, sugestões e comentários sobre o andamento daquele módulo e considerações gerais, o terceiro a divisão dos trabalhos escritos para os alunos interessados com uma comemoração de encerramento num restaurante à nossa escolha.

Tem algum material específico para os estudos?

Farei sempre uma apostila básica com os estudos daquele módulo e um resumo dos temas abordados e entregarei para os alunos no nosso primeiro encontro. Os demais textos a serem estudados serão indicados para que sejam preferencialmente comprados em livro (se possível) e, para quem quiser, posso providenciar as cópias ou até passar a espiral se o tamanho dos textos comportar. 

Qual o número mínimo e máximo de participantes?

O mínimo de alunos para que possamos começar um módulo é de três. Por se tratar de um grupo de estudos com um caráter mais aprofundado não podemos ter mais do que oito pessoas presentes no grupo, sendo sete integrantes e eu. Caso tenhamos mais de sete pessoas interessadas procuraremos abrir um segundo grupo em outro dia.

A princípio penso em abrir um grupo às sextas-feiras e um grupo às quartas-feiras. Por favor deixem suas possibilidades (e contatos) nos comentários dessa postagem. 

Há algum tipo de certificado de conclusão do curso ou módulo?

Sim! Cada módulo terá um certificado de conclusão de curso constando as horas de estudo (geralmente em torno de 24 horas por módulo) e terá a chancela do Instituto A.T.E.N.A. - Arte em Treinamento Especializado e Neurolinguística Aplicada - , minha empresa.

Qual o valor para participar do grupo de estudos?

O valor mensal é de R$125,00 (cento e vinte e cinco reais) e pode ser pago por depósito bancário (Banco do Brasil), transferência ou à vista.

O valor por aulas avulsas é de R$53,00

Qual vai ser nosso primeiro tema?

Considerando que o processo de individuação é um processo de transformação com paralelos na alquimia e na física das trocas de energia, vamos começar esse primeiro módulo falando sobre transformações e metamorfoses na mitologia. Leremos a obra "As Metamorfoses" de Ovídio e estudaremos outros mitos de transformação em outras mitologias mundiais.

Quando começamos?

Nessa sexta-feira! Dia 26 de junho! Às 19:00!
Endereço: Rua Marquesa de Santos 53 apt202, Laranjeiras!
A menos de 5 minutos a pé do metrô do Largo do Machado.

Ah, e que quer dizer ARQUETELOS mesmo?

É um nome criado pela junção do prefixo "Arque" (antigo, primitivo, primordial) com o sufixo "Teleios" (final, completude, término), ou seja "início e fim" em uma palavra só. Eu que criei. Espero que gostem!

SEJAM TODOS MUITÍSSIMO BEM VINDOS!!! E VAMOS AOS MITOS!!!

"O mito é o nada, que é tudo" - Fernando Pessoa

PS: Eu não tomo café à noite, mas teremos drinks de café que eu farei para os presentes! Uma cortesia de outro projeto meu, o www.cafecomconto.blogspot.com

PS2: Todas as imagens nessa postagem virarão marcadores de livros que serão brindes para os participantes.

Por: Renato Kress

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Enquete: Que deusa grega é você?

Que deusa grega é você?

Vênus de Milo
Muitos foram os pedidos femininos para uma enquete das deusas. Nós do grupo de estudos de mitologia Arquetelos resolvemos criar então um novo questionário para os poderosos arquétipos femininos da mitologia grega. Descubra aqui qual deles reflete melhor sua personalidade:

1. Entre essas aves, qual você prefere?
A. Pavão.
B. Garça.
C. Cisne.
D. Falcão.
E. Coruja.
F. Pomba.
G. Andorinha.

2. Qual são as cores que mais te agradam?
A. Tons mais sóbrios.
B. Amarelos, laranjas e marrons vibrantes.
C. Tons escuros, puxado para o preto.
D. Tons de terra e nuances de verde.
E. Tons neutros e acinzentados.
F. Rosas e vermelhos.
G. Tons pastéis e brancos.

3. Você ama o cheiro de...?
A. Aromas secos, como patchuli.
B. Flores.
C. Baunilha, âmbar e sândalo.
D. Amadeirados.
E. Cítricos e suaves.
F. Frutas.
G. Limpeza.

4. Qual dessas imagens acha mais impressionante?
A. A vista de um arranha-céu.
B. Campos floridos na primavera.
C. Uma caverna incrustada de pedras preciosas.
D. Uma selva inexplorada.
E. Uma grande universidade internacional bem antiga.
F. O mar batendo com força nas pedras.
G. Sua casa dos sonhos.

5. Para você, a casa dos seus sonhos deve ter:
A. Controle remoto pra tudo.
B. Um jardim com pomar.
C. Um closet recheado de joias e roupas de grife.
D. Minha casa dos sonhos é minha mala de viagem!
E. Um home office organizado maior que a sala.
F. Uma cama bem grande e confortável cheia de travesseiros.
G. Uma lareira.

6. Se tivesse de escolher uma dessas profissões, qual seria?
A. CEO de uma multinacional ou Política.
B. Botânica ou Geóloga.
C. Psicóloga.
D. Veterinária de animais de grande porte ou Agente de turismo
E. Advogada, Juíza, Delegada ou Professora.
F. Dermatologista, Designer ou Produtora de eventos
G. Dona-de-casa ou Chef.

7. Um dia alegre e divertido para você inclui:
A. Combinar tardes de bate-papo com as amigas, acompanhado de quitutes variados.
B. Fazer compras no supermercado ou em feiras livres e encontrar os amigos em restaurantes familiares.
C. Sair para refletir ou fazer passeios por praias desertas.
D. Ida a parques, praças, feiras livres, zoológico e eventos esportivos.
E. Passar a tarde numa livraria.
F. Saída para ver vitrines ou exposições, passar a tarde num spa de relaxamento, ir a concertos, restaurantes, bares da moda ou sair para dançar.
G. Estar com a família em qualquer lugar ou ver uma maratona de filmes e seriados no conforto do seu sofá.

8. Para qual desses lugares você viajaria agora:
A. Londres.
B. Florença.
C. Grand Canyon.
D. Amazônia (ou qualquer lugar no meio do mato).
E. Grécia.
F. Paris, claro!
G. Agora?

9. Como é seu estilo de se vestir?
A. Sóbrio, mais para o clássico elegante com peças de excelente qualidade.
B. Tecidos orgânicos e naturais, com cabelos soltos.
C. Roupas escuras de grife e acessórios de luxo que realçam seu visual.
D. Esportivo, roupas que privilegiam o conforto e a liberdade de movimentos.
E. Terninho, talleur, tecidos que não amassam, cabelo preso, pouca maquiagem e acessórios discretos.
F. Roupas sensuais, com decotes e fendas.
G. Roupas confortáveis, despreocupadas da moda em tecidos leves ou um bom pijama de moleton.

10. Nas refeições, o que você prefere comer?
A. Alimentos de nutrientes balanceados e servidos em porções pequenas.
B. Alimentos nutritivos e substanciais, em porções enormes.
C. Comidinhas bem temperadas com diferentes ervas.
D. Alimentos naturais e saudáveis.
E. Pratos congelados e prontos.
F. Pratos bem decorados e feitos com ingredientes exóticos.
G. Comidinha caseira, uma receita de família.

11. Você foi uma garotinha:
A. Mandona e líder voluntariosa.
B. Que gostava de brincar na terra, com plantas e flores.
C. Tímida, reclusa, de poucos amigos e ligada à sua mãe.
D. Aventureira, bem moleca.
E. Estudiosa e observadora.
F. Avançadinha para a idade.
G. Caseira, gostava de brincar de boneca.

12. Você se irrita mais com pessoas:
A. Infiéis.
B. Mentirosas e negligentes.
C. Depressivas.
D. Porcas.
E. Burras.
F. Insossas e desleixadas.
G. Desagregadoras.

13. Na vida a dois, você é:
A. Ciumenta, mas não larga o osso.
B. Gosta da família, gosta de construir em comunhão.
C. O segredo é a alma do negócio, afinal, entre quatro paredes vale tudo.
D. Companheira de aventuras, caçadora de experiências de vida.
E. Não faz o gênero romântico nem é de demonstrar afeto, mas pode contar contigo.
F. Gosta de preservar sua independência sexual e em um relacionamento sério busca sempre apimentar.
G. Se apega à relação e até esquece dos amigos, só quer saber de ficar em casa curtindo o amorzinho.

14. Você acabou de conhecer alguém perfeito. O que faz?
A. Joga charme abertamente para mostrar suas intenções, mas faz jogo duro.
B. Flerta naturalmente e deixa a natureza seguir seu curso.
C. Faz um ar de mistério, cheio de sinais corporais, esperando ser arrebatada.
D. Sai à caça! Faz de tudo pra conseguir o que deseja.
E. Não tira o olho e altera sua estratégia de acordo com as reações.
F. Parte pra cima! É direta e não gosta de perder tempo com joguinhos.
G. Primeiro conhece os amigos, depois vira amiga. Se for pra acontecer, acontecerá.

RESULTADOS
Veja qual o número de suas respostas. A maioria delas irá determinar sua divindade correspondente. Empate no número de respostas indica que você tem uma personalidade complexa e que seu desafio é vivenciar de forma harmoniosa e equilibrada as características que talvez sejam destoantes.

HERA (maioria de respostas A): Ela é a rainha do Olimpo, guardiã das tradições e centro do poder. Detesta ser contrariada. Sua energia é usada para organizar tudo ao seu redor. Mulheres sintonizadas com essa deusa cuidam da família, se preocupam com o bem-estar e com a educação de todos. Gosta de se expor e de parecer poderosa. Pode demonstrar dificuldade para aceitar sugestões que a contrariem.

DEMÉTER (maioria de respostas B): No Olimpo, a deusa Deméter recebeu de seu irmão, Zeus, a tarefa de proteger os campos cultivados para que fossem sempre férteis. Por isso ela é a regente da nutrição e do crescimento dos filhos. Quem é regido por essa deusa está sempre cuidando de alguém, como um amigo ou parente. É maternal, acolhedora e adora cuidar de plantas, animais e pessoas necessitadas. No entanto, é muito controladora e apegada às pessoas. Isso, às vezes, é capaz de sufocar o companheiro, que pode achar que você pega demais no pé dele.

PERSÉFONE (maioria de respostas C): Na mitologia, a jovem é raptada por Hades, deus dos infernos, que a leva para viver no mundo subterrâneo. Sua mãe negocia sua libertação e consegue que ela viva seis meses na superfície e seis meses nas profundezas. Perséfone rege a mulher que segue a intuição, que não se deixa enganar pelas aparências. Ela torna as pessoas mais equilibradas e preocupadas com questões ambientais. Pode tornar sua protegida assustada demais, com medo de tudo e de todos.

ÁRTEMIS (maioria de respostas D): A deusa da liberdade e da natureza é a mais batalhadora das filhas de Zeus. Hábil arqueira, era parceira do irmão Apolo nas caçadas. A mulher regida pela deusa é livre e aventureira. Também adora trabalhar e não tem medo de desafios. Procura manter o corpo saudável por meio de uma alimentação natural. Com o tempo, pode se tornar mais descuidada no visual e, por isso, afastar os homens.

ATENA (maioria de respostas E): Na mitologia, Atena nasce da cabeça de Zeus, já adulta, e não conhece sua mãe. Fica sozinha à frente do mundo dos homens e, por isso, se tornou uma guerreira. Atena também é a deusa da astúcia, da sabedoria e uma exímia tecelã. A mulher regida por essa deusa tem boas chances de assumir cargos de chefia e comandar equipes. Devido a tanto poder, pode ser racional demais e se tornar antipática. Portanto, precisa manter-se humilde.

AFRODITE (maioria de respostas F): Urano, senhor do céu, é castrado por Cronos, senhor do tempo. O sêmen dele, então, cai no mar, dando origem à Afrodite, deusa da beleza e do amor. A mulher sintonizada com essa deusa atrai os olhares e se entrega às relações sem dar garantia de fidelidade. É fiel, antes de tudo, a seus desejos. Também sabe dosar a sensualidade e usar sua energia sedutora para conseguir vitórias em diversas esferas da vida. Algumas vezes, pode ser vista pelos homens apenas como uma mulher de relação passageira. Eles a adoram, mas não se casam com ela.

HÉSTIA (maioria de respostas G): Deusa do lar e do calor humano, Héstia era a queridinha do Olimpo. Estava presente em todas as casas e templos, trazendo estabilidade e união. Uma mulher de Héstia dá valor à família e aos amigos. Está sempre no centro das atenções, mas nunca para si e sim para os outros. Zelosa e excelente dona-de-casa, pode ser muito tímida e até retraída nos relacionamento pessoais, mas é a que todos chamam de “mulher pra casar”.

Revelem seus resultados nos comentários!

Uma observação importante: enquanto fazíamos esta nova enquete, detectamos diversos pequenos deslizes mitológicos na enquete anterior dos arquétipos masculinos, que serão devidamente corrigidos.

Postagem criada por Filipe Chagas e Renato Kress - membros do grupo Arquetelos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ensaio sobre a curva

Nosso pensamento constrói nossa realidade. O filósofo alemão Hegel nos advertia em sua obra sobre a capacidade do espírito humano em modificar o ambiente ao nosso redor e, alguns anos mais tarde, um outro alemão, Schopenhauer, exemplificou a importância da "vontade" como condutor da ação humana sobre o mundo e como responsável por nossa capacidade de modificá-lo.

Enquanto para Hegel o mundo é o produto das mentes que o habitam e constroem e, para Schopenhauer, o mundo é o produto da força de vontade de indivíduos que se destacam, para Marx esse mesmo mundo é que produz seres humanos socializados de acordo com as regras já postas pela sociedade. Sinceramente creio que todos estejam certos em algum ponto, afinal, somos perfeitamente capazes de modificar o mundo ao nosso redor e sempre há um microcosmo pessoal sobre o qual nossa vontade impera soberana, ainda que sejamos sim socializados e educados por padrões de comportamento que foram criados e impostos muitos anos antes de nosso nascimento. A realidade social se dá por sistemas complexos integrados, nem criamos o mundo como queremos nem somos completamente moldados pelo mundo ao nosso redor. É nessa linha de pensamento que me peguei, ao estudar a Teogonia, de Hesíodo, com meus alunos do grupo de estudos Arquetelos.

A genética da ordem
No estudo da Teogonia, de Hesíodo, obra que procura contar o nascimento dos deuses e a instauração da ordem (em grego "Kosmos"), desde o caos, encontramos algumas divindades importantes descritas como tendo um "curvo pensar". Nesse pequeno ensaio vou me concentrar em apenas duas delas: Crono, filho de Úrano e Gaia e pai de Zeus, e Prometeu, filho de Jápeto e Climene e irmão de Métis, Epimeteu e Atlas. Mas porque especificamente Crono, deus agrário do limite, do corte e da colheita e Prometeu, divindade secundária diante dos deuses olímpicos, trapaceiro da ordem vigente e mártir, porque justamente esses dois seriam descritos por Hesíodo como portadores de um pensamento em curva? E o que viria a ser esse "curvo pensar", descrito por Hesíodo?

A curva
Ao procurar a origem da palavra "curva" fui levado a "curvo" que, segundo o dicionário etimológico significa "'que muda de direção sem formar ângulos', 'arqueado, inclinado, abaulado' (...) (geomet.) 'lugar geométrico de um ponto que se desloca no espaço com um único grau de liberdade'.

A curva delimita uma mudança de direção. A direção que então se seguia, o trajeto prescrito que até então se tinha como modelo, como padrão, depois da "curva", torna-se outro. O sistema que então operava sofre modificações às quais deve se adaptar ou contra as quais deve sucumbir lutando. A curva é uma mudança no caminho, e, se pensarmos efetivamente numa curva numa estrada, por exemplo, quanto mais acentuada, menor o grau de visibilidade teremos sobre o que há depois da curva. Por isso curvas fechadas são perigosas. Na entrada de cada curva temos o aumento da atenção e a diminuição da velocidade, afinal, atrás dela sempre está alguma incerteza.

Úrano, a primeira linha reta
A Teogonia, palavra grega que significa "nascimento dos deuses", trata do estabelecimento do Kosmos, palavra que significa "ordem", através de um início onde a primeira divindade era o Kháos, descrito como uma imensa mandíbula negra eternamente engolindo tudo ao seu redor. Para as nossas referências contemporâneas, podemos imaginar o Kháos como sendo um imenso buraco negro.

O fato é que é a partir do Kháos, desse imenso indiferenciado universal tragando tudo para dentro de si, é que teremos o estabelecimento da ordem, com o aparecimento do primeiro casal divino: Gaia e Úrano. Úrano, o 'céu estrelado', é o primeiro deus ordenador, o primeiro princípio de ordem e continuidade no universo, a primeira linha reta. Na realidade o simbolismo de Úrano é justamente essa linha reta traçada pela única ação iniciada por ele e nunca freada, a reprodução. Úrano representa o grande deus reprodutor, de uma forma completamente impensada, irrefreável, incontrolável. Ele permanece tendo relações sexuais eternas com Gaia, sua mãe-irmã-esposa (as categorias sociais não se aplicam nessa questão) que, apesar de grávida, não possuía espaço para que os filhos saíssem, já que Úrano era insaciável. Qualquer semelhança com a hiperprodutividade inócua e sem demanda do sistema capitalista contemporâneo não é mera coincidência!

Desesperada ela pede a seus filhos (todos dentro de seu ventre, que a essa altura já estava completamente rachado e gigantesco) que cessem a procriação desenfreada de Úrano. Todos se negam, por medo do pai, menos Crono "o de curvo pensar".

Crono, o de curvo pensar
O filho mais novo, depois de três gerações de filhos, é o que vai inaugurar a nova ordem, o que vai "curvar" a reta de Úrano, curvar a ordem vigente, estabelecer uma nova ordem, uma nova trajetória e direção. Para isso Gaia, sua mãe, o arma com uma foice feita "do líquido do seu seio", uma lâmina curvada feita de metal derretido no núcleo da terra.

Muito antes da foice ser colocada nas mãos da caveira recoberta de negro que no século XV passou a figurar como a representação mais comum da morte, muito antes da foice ter o significado simbólico daquilo que iguala todas as coisas vivas através da passagem pela morte, a foice teve outro significado. Para Crono a foice tinha o significado da punição, do castigo, de discriminação e de reinauguração de uma nova ordem. Exatamente como o significado que temos da curva, da mudança de direção.

 Esse significado fica mais claro para os que já estejam familiarizados com o jogo de tarô e com o arcano XIII, 'A Morte'. Os arcanos maiores do tarô, as cartas numeradas, são em número de 22, de forma que o número 13, 'A Morte', não pode necessariamente significar um fim (está pouco depois do meio do caminho), mas um reinício. A foice, na carta XIII, tem um valor positivo como a instauração de uma nova ordem.

Ao castrar seu pai, ao usar a lâmina curvada da foice para ceifar o movimento retilíneo e uniforme da procriação inesgotável de Úrano, Crono assume o poder, tornando-se o novo soberano e casando-se com sua irmã Réia. Amaldiçoado pelo pai a, como ele, ser deposto por um filho seu, Crono, com seu "curvo pensar", decide engolir seus filhos, revertendo a ordem natural da vida de forma a curvar o tempo de volta, trazendo novamente sua prole para dentro de si mesmo. A cada filho gerado e parido por sua irmã-esposa, Crono engolia, trazendo de volta a si o que deveria ser o produto natural da relação deles.

Deus canibal
Uma das distinções mais claras entre nosso conceito ocidental de civilização e de barbárie é a antropofagia, ou o canibalismo, o costume ritual de um povo de se alimentar de outros seres humanos. A literatura do século XVIII usava o costume do canibalismo como uma das formas de definir o que pertencia aos domínios da civilização e o que pertencia aos domínios da barbárie. Sob uma ótica evolucionista, tomando a cultura européia como o ápice da evolução cultural possível, tudo o que era estranho, diverso, em suma, não-europeu, era caracterizado como inferior ou "bárbaro". Assim também o costume do canibalismo.

Os diários de viagem de Cristóvam Colombo foram os documentos que consagraram o termo "canibal". A palavra deriva de 'cariba', expressão pejorativa que usavam os índios arawak para nomear seus inimigos e se referir à sua barbárie extrema. Com Colombo o termo fortalece essa designação e adquire novos significados. Em geral o hábito canibal foi explicado como um ritual de vingança e assimilação das características fortes do inimigo capturado. O texto que deu o pontapé inicial para uma discussão mais aprofundada sobre o canibalismo foi o de Michel de Montaigne cuja sentença "cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra" resume bem a questão. Afinal, se pensarmos bem, não são os índios que periódica e ritualisticamente comem o corpo e bebem o sangue de seu maior mártir, somos nós.

Toda nova ordem estabelecida, em seus primeiros tempos, é um período de insegurança, posto que as novas regras mesmo que estejam claras (e normalmente não o estão) ainda não foram fundamentadas no costume, no tempo, no hábito. Para que seja então fortalecida e estabilizada é necessário que ela adquira algumas das qualidades da ordem anterior, essa sim, enraizada no costume, no 'cultivo' diário (raiz do conceito de cultura). Toda nova ordem possui essa espécie de receio de não se estabilizar e, graças a isso, assume algumas características estáveis da velha ordem, ou seja: pratica um canibalismo ritual. Foi o que Crono fez. Limitou o poder dos filhos. Atento às dores de sua mãe Gaia e ao poder da vingança feminina, da qual ele foi instrumento contra seu outrora poderoso pai, Crono deixava que seus filhos viessem à luz e então os engolia. Não causando em sua esposa Réia, a mesma dor que seu pai Úrano gerou em sua mãe, Gaia. O canibalismo de Crono surge então como uma resposta para os desafios do processo de criação de uma nova civilização, de uma nova ordem. Ainda que um processo em curva.

A curva dominadora, o canibalismo estrutural
Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropofágico (1928), radicalizou a proposta do canibalismo como processo de criação de uma cultura quando formulou a frase "só me interessa o que não é meu", alavancando a concepção de que a identidade cultural do brasileiro se constrói no ato de devoração do outro. É um jogo de dominação e resistência em que o "curvo pensar", traz propositalmente o outro, o diferente, a referência cultural alheia para dentro do próprio sistema com a intenção de assimilar o que lhe fosse interessante e descartar o que não lhe fosse. É um processo de reestruturação cultural operado na mesma lógica do sistema digestório humano.

Para criar uma nova ordem é necessário assimilar partes da antiga ordem. Esse é um dos maiores desafios para os de "curvo pensar".

Prometeu, as trapaças do curvo pensar
O segundo importante deus citado na Teogonia como tendo o "curvo pensar" é justamente Prometeu, o titã filho de Jápeto e Climene e irmão de Atlas, Epimeteu e Métis. Atentemos para a família de Prometeu: Primo de Zeus (seus pais são irmãos de Crono e Réia), seu nome deriva de "Métis", nome de sua irmã e que significa "Astúcia" ou "Malícia". Prometeu é aquele que antecede a astúcia, aquele que vem antes da malícia, ou o pré-vidente. Sua irmã, como já dito, é a própria divinização personificada da astúcia e seu irmão mais novo, Epimeteu, é aquele que vem "depois da astúcia", ou seja, o último a perceber, o lento, retardado ou o idiota.

O tempo em que se passa o mito de Prometeu é justamente o novo tempo, quando Zeus, o filho mais novo de Crono, acaba de destronar seu pai e exilá-lo, segundo Hesíodo, para o Kháos abaixo das profundezas do Tártaro (uma região mítica que fica abaixo da região abaixo da terra.). Zeus ainda está reticente em sua nova função de ordenador do universo. Simultaneamente extasiado e amedrontado com a nova posição, teme que ela seja posta em cheque pelos próprios mortais, que considera como "filhos". Dessa forma retira dos seres humanos o fogo. Não somente o fogo físico, necessário ao cozimento dos alimentos, ao calor e à proteção contra os animais à noite, mas principalmente o fogo metafórico, a inteligência, a sagacidade, a clareza de raciocínio e, em certa medida, a esperança.

Prometeu representa um curvo pensar também, o pensar que, enquanto a nova ordem se estrutura e se assenta, preocupa-se com os menos favorecidos, com a massa desprovida de poderes e capacidades diante da nova oligarquia de deuses que se estabelece. O pensar curvo de Prometeu, esse pensar que não se coaduna com a preocupação primária de Zeus e seus irmãos em manter e estabelecer a nova ordem acima de qualquer outro princípio, acaba de alguma forma infectando a Zeus que, ao fim de tudo, permite que Hércules, um de seus muitos filhos, o liberte da prisão em que ele, Prometeu, fora confinado e acorrentado, no alto do monte Cáucaso, onde uma águia vinha diariamente comer seu fígado, que se regenerava até o próximo dia.

A curva e a culpa
Hesíodo coloca em Prometeu a malícia e a perfídia, os pensamentos trapaceiros em relação aos deuses, já  outro autor, Ésquilo, coloca no mesmo Prometeu as belas qualidades de um mártir popular, aquele que com seu pequeno furto, o fogo brilhante de onde nascem todas as artes, um tesouro sem preço, conseguiu libertar os homens da obsessão da morte: "instalei neles as cegas esperanças... eu lhes presenteei o fogo... dele, eles aprenderão artes sem número" (Palavras de Prometeu, in Prometeu Acorrentado, de Ésquilo). De uma certa forma Prometeu simboliza a culpa e a expiação quando se "curva" uma determinada ordem ou a mesma culpa e expiação que sofremos quando não curvamos a nossa própria intuição, o nosso próprio espírito, aos desejos de uma ordem contrária.

Com Prometeu a curva é, simultaneamente, uma transgressão sagrada e humana. Algo necessário para o equilíbrio de uma nova ordem que se estabelece. Somente ordens conscientes de sua fraqueza, seja por serem novas e instáveis, seja por serem velhas e desgastadas, têm medo da curva, seja da curva de Crono, que limita a velha ordem que não se sustenta, seja da curva de Prometeu, que alinha e contrabalança a nova ordem que ainda não se estabilizou. Toda ordem, toda linha reta, que não admite a curva, a mudança de trajetória e o repensar, o pensamento transgressor e a liberdade de recriação do mundo, é patológica, é problemática e senil. O que mais fortemente manifesta essa patologia é o medo difuso. Toda ordem que não admite mudanças de percurso coloca, sobre cada mudança, o fantasma do medo.

Creio ser perfeitamente compreensível que, ao ligarmos nossas televisões ou ao passarmos diante de bancas de Jornal, os temas do medo, pânico, insegurança e incerteza sejam os mais comuns. Não me é estranho que as mulheres tenham suas curvas naturais transformadas em culpas pelos gurus da moda, ou que o Mercado Financeiro venha constantemente transformando qualquer possibilidade de mudança estrutural em seu sistema irreal de crédito em medo difuso, crise e pânico generalizado. Sinais de uma ordem que, cada vez mais, se torna incapaz de adequar-se às mudanças que ela mesma tem provocado.

Renato Kress
Antropólogo, Sociólogo, Cientista Político e diretor do Instituto ATENA
Criador do projeto Arquetelos

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mitologia, deusa tríplice

Ensaio sobre as origens das leituras gregas da narrativa da vida.

Aos meus 13 anos ainda se ganhavam CD´s de presente. Lembro-me de ter ganho um CD da banda Extreme que me causou uma impressão muito marcante. Se chamava "III sides of every story" - três lados de toda história - e a contracapa dele dividia a sequência de quatorze músicas em três fases: "Yours" (sua), "mine" (minha) e "the Truth" (a Verdade). Para um aluno apaixonado por história e artes, ainda em época de colégio, foi uma grata surpresa compreender que a ideia de perspectiva poderia se aplicar também a uma forma de contar ou de ler uma história. Talvez tenha sido a partir daí que comecei a realmente compreender o que mais tarde vim a desenvolver na faculdade de antropologia e nos estudos sobre cultura e as diversas formas do ser humano de habitar e narrar sua aventura sobre um único planeta.

Aos vinte e poucos anos reiniciei uma antiga paixão pela mitologia e foi maravilhoso perceber de fato o que intuitivamente eu já reconhecia, que 'mythós' (mito) não é "mentira", nem "lenda", nem "fantasia", mas é um discurso que procura traduzir a nossa experiência de estar vivos, a nossa jornada na terra, o que nos é importante, valoroso ou proibido, uma narrativa que tem o poder de definir o que tem e não tem valor, seja ele um valor simbólico, pessoal, cultural ou financeiro e, mesmo dentre eles, qual o que nos motiva social ou intimamente a agir.

Um sentido para a narrativa da vida
Foi importante reencontrar o mito, a narrativa que doa sentido para a realidade que vivemos, justamente no meio da faculdade de antropologia. Entre Bronislaw Malinowski, E.E. Evans Pritchard, Cláude Lévi-Strauss e tantos outros antropólogos e cientistas sociais que buscavam na narrativa da existência humana uma estrutura, uma coerência íntima a partir de um discurso próprio daquele povo e não a partir dos referenciais (ou da "gramática") da cultura européia. Foi a partir daí que pude compreender a natureza caótica da existência humana e como a ausência de um sentido único e primordial abria espaço para a verdadeira e heróica obra do homem como criador, como doador de sentido para o seu mundo, em qualquer época ou local.

O homem precisa de sentido. Quer entendamos a palavra "sentido" como um "significado" profundo para as nossas experiências felizes ou infelizes, quer entendamos "sentido" como "direção" dentro de uma trajetória de vida. Na realidade creio que definir o sentido (significado) é o primeiro passo para definirmos o sentido (trajetória) no espaço, no tempo, nas experiências. A vida sem sentido pode ser caótica, frígida ou mesmo insuportável, jamais uma vida meritória, plena. Ainda que refaçamos, que reestruturemos o sentido (significado) ao longo - o que é perfeitamente natural e saudável - precisamos ter um sentido (trajetória) para dar sentido (significado) às nossas vidas.

Razão cartesiana e razão simbólica
Quando estudamos a mitologia grega, submersos no vício cartesiano da racionalidade linear, caímos em algumas contradições complexas e taxamos o mito de irracional. Afinal de contas, por exemplo, como poderia Afrodite ser filha e tia de Zeus, como poderia Perséfone ser a fiel esposa de Hades e ter sido mãe de Dioniso, fecundado com Zeus, seu pai? A racionalidade do mito, da narrativa que busca dar significado para essas histórias, não é da natureza cartesiana, mas da natureza simbólica, como nossos sonhos, como nosso inconsciente. Além do quê temos diferentes versões para a raiz da mitologia grega. Esse ensaio a quatro mãos, realizado pelos membros do Arquetelos falará justamente sobre as três maiores tradições que nos chegaram: Hesíodo, Homero e Orfeu.

A deusa tríplice
Na mitologia grega temos vários deuses e deusas tríplices, representando leituras diversas de uma mesma realidade. Podemos entendê-los como lentes ou filtros de percepção e leitura da realidade. Os três grandes irmãos: Zeus, Pósidon (Poseidon) e Hades podem configurar as leituras racional, emocional ou física de uma mesma realidade, assim como as deusas fiandeiras do destino Cloto, Láquesis e Átropos significam começo, meio e fim da vida ou como Ártemis, Selene e Hécate significam as três fases da lua. Identificaremos, nesse ensaio, Hesíodo, Homero e Orfeu como versões de uma mesma história. Nem sempre os mesmos personagens terão a mesma natureza ou os mesmos papéis e isso apenas significará que estamos diante de uma leitura humana, sem a pretensão divina de alcançar uma única grande 'Verdade' absoluta. 'Verdade' essa que jamais foi encontrada na história humana sem que gerasse prepotência, violência, intolerância e discórdia. Estamos diante da possibilidade de uma leitura plural, de uma coexistência de 'verdades', sem maiúsculas, sem pretensões, apenas a de que é possível conhecer e respeitar várias, ainda que se tenha uma preferida.

Bem vindos ao multiverso do mito, ao pluriconvívio das narrativas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Autores e raízes da mitologia grega

Esboço das raízes da mitologia grega

Tanto mitos gregos subsistiram porque os escritores antigos contaram e recontarm as histórias dos deuses e heróis em poesias, prosas e peças de teatro. Algumas versões, especialmente os dois poemas épicos de Homero - A Odisséia e a Ilíada - e as peças trágicas dos dramaturgos gregos tornaram-se clássicos da literatura mundial.

Homero
Os poemas épicos de Homero

Homero foi um dos primeiros e melhores poetas antigos. A data de seu nascimento é incerta, embora os estudiosos concordem em datá-lo por volta dos séculos VIII ou VII a.C. ele é famoso por dois poemas épicos: a Ilíada, que fala dos eventos da Guerra de Tróia, e a Odisséia, que narra as aventuras de Odisseu em sua jornada de regresso à Grécia vindo de Tróia. Essas duas épicas vieram à luz inicialmente na forma de narrativas orais que Homero organizou e reestruturou, tornando-as famosas na Grécia antiga. Ainda hoje são elogiadas por sua forma direta, pela caracterização e pela rica linguagem poética.

As obras de Hesíodo
Hesíodo

Hesíodo foi outro poeta antigo a tratar os mitos com abrangência. Sua Teogonia, provavelmente escrita nos séculos VIII ou VII a.C. conta a história da criação do cosmo, o nascimento dos deuses e a ascenção de Zeus ao poder. Seu outro poema, Trabalhos e os Dias, fala de Prometeu e das cinco idades do mundo.


Orfeu (ou tradição Órfica)

Personagem mítico da Grécia, de origem trácia, Orfeu era filho da musa Calíope (inspiradora das poesias épica e Heróica) e do rei Eagro. Considerado "Divino poeta e cantor", além de inventor da cítara, conta-se que a suavidade de sua voz e melodiosidade de seus versos acalmavam os animais selvagens e os homens em fúria. Mais extraordinário ainda, as covas das árvores se inclinavam para ouvi-lo. Apesar de sua existência na Grécia, as aventuras, o amor e o destino trágico de Orfeu só vieram a ser narrados, por escrito, pelo poeta latino Públio Virgílio Marão na sua obra As Geórgicas (séc. I a.C.).

Tendo participado da expedição dos Argonautas, casou-se, em seguida, com a ninfa Eurídice, a quem julgava "metade da sua alma". Certo dia, tempos depois de seu casamento, Eurídice foi vítima de uma tentativa de violação pelo apicultor Aristeu. Na fuga, a bela esposa de Orfeu pisou numa cobra, que lhe mordeu o calcanhar, provocando-lhe a morte. Desesperado, Orfeu resolveu ir ao Hades, ao reino dos mortos, para recuperar sua amada. De posse da sua cítara, Orfeu maravilhou todos os deuses e as criaturas do submundo. Hades, rei do mundo dos mortos, e sua mulher, Perséfone, condoeram-se de tal sorte da dor de Orfeu que lhe permitiram conduzir Eurídice de volta ao reino dos vivos. Para essa transgressão do ciclo natural havia, no entanto, uma severa condição: Orfeu iria à frente de Eurídice e, houvesse o que houvesse, em nenhuma hipótese deveria olhar para trás, até ter alcançado a luz, já fora dos recintos do Hades. Próximo à saída, no entanto, Orfeu, duvidando das promessas dos deuses e querendo certificar-se de que Eurídice o seguia, olhou para trás. Ao pôr os olhos em sua mulher, Eurídice se desfez em sombras, morrendo uma segunda e definitiva vez.

Inconsolado e mortificado pela culpa, Orfeu começou a repelir todas as mulheres, instituindo ainda os mistérios que levam o seu nome (Orfismo), destinados exclusivamente aos homens. Essas posturam geraram a fúria das Mênades (ou Bacantes), seguidoras do deus Dioniso. Numa das reuniões órficas, nas quais os participantes deixavam suas armas na entrada, as Bacantes invadiram a casa e trucidaram Orfeu e os adeptos dos mistérios.

Orfismo

Originariamente diz respeito aos mistérios instituídos por Orfeu. A interpretação fornecida por Junito de Sousa Brandão para o mito e para os mistérios (dos quais pouco se sabe) é, resumidamente, a seguinte:

"Na realidade o grande desencontro de Orfeu no Hades foi o de ter olhado para trás, de ter voltado ao passado, e ter se apegado à matéria, simbolizada por Eurídice. Um órfico autêntico [...] jamais retorna. desapega-se, por completo, do viscoso do concreto e parte para não mais regressar [...]. É assim que olhar para a frente é desvendar o futuro e possibilitar a revelação: para a direita é descobrir o bem, o progresso; para a esquerda é o encontro do mal, do caos, das trevas; para trás é o regresso ao passado, às 'hamartiai', às faltas, aos erros, é a renúncia ao espírito e à verdade" (Mitologia Grega). Esse olhar para trás, para os erros do passado, apegando-se às coisas materiais, tem o mesmo significado bíblico da passagem de Sodoma e Gomorra, na qual a mulher de Lot é transformada em estátua de sal.

Os dramaturgos

Os três grandes dramaturgos da Grécia Antiga foram Ésquilo, Sófocles e Eurípedes e todos usaram os mitos e seus enredos. A imponente trilogia de Ésquilo, a Oréstia, aborda o assassinato do herói Agamêmnon e a vingança de seu filho Orestes. Também é sua uma peça sobre Prometeu. Os temas de Sófocles incluíam Édipo, o ciclo de Tróia, Antígona e Héracles. Eurípedes também escreveu várias peças sobre o ciclo troiano além de Héracles e Alceste. Essas peças, originalmente exibidas como parte dos grandes festivais dramáticos de Atenas, então em seu auge no século XV a.C., mais tarde foramvistas por todo o mundo grego e até mesmo fora dele.

Escritores posteriores

Durante o século IV a.C. o mundo grego e sua cultura expandiram-se drasticamente quando Alexandre, o Grande, conquistou considerável parte da Ásia e do Mediterrâneo. Isto inspirou muitos escritores, inclusive Apolônio de Rodes (séc. IIIa.C.) autore de um poema épico chamado Argonáutica, que narra a história de Jasão e o Velocino de Ouro, mais tarde, o poeta Ovídio (43a.C. - 17 d.C.) recontou ma série de mitos de transformaçòes nas Metamorfoses, e nos séculos I ou IId.C. o escritor grego Apolodoro, escreveu a Biblioteca de Mitologia, que continha muitos dos mitos gregos que viriam a ser uma grande fonte de inspiração para escritores dos séculos XVI e XVII d.C.


Ésquilo
 
Sófocles
Eurípedes

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Caos e Cosmos



A vida, sem sentido, é insuportável. E são tantos os possíveis sentidos para tantas percepções diferentes de tantos seres humanos diferentes nas suas tantas diferentes fases em suas tão diferentes vidas...


O universo é, em si, caos. Nossas mentes é que, para operar nesse caos, efetuam constantemente a construção de um sentido, de uma orientação primordial - "sagrada" - ou de uma ordem arbitrária instituída. A orientação em busca de um sentido, mesmo que temporário, frágil e arbitrário, é o que mantém nossa psique estruturada, sadia, saudável. Esse é um movimento natural da espécie humana.

O Eixo do Mundo
Os Peles Vermelhas, da América do Norte, esculpiam seus totens - pilares ou postes de cedro - ricamente adornados com os animais de poder aos quais aquele clã estava ligado. Aquele totem era um objeto cultuado como representação de uma divindade ou equivalente por uma sociedade organizada em torno de um símbolo ou por uma religião (totemismo). Por definição religiosa podemos afirmar que é uma etiqueta coletiva tribal, que tem um caráter religioso. É em relação a ele que as coisas são classificadas em sagradas ou profanas, é o totem que doa sentido às suas vivências e experiências, através dele a vida adquire, então, um sentido e uma finalidade, um início 'Archaio' e um fim 'Teléios'.

Da mesma forma cada ser humano possui uma estruturação própria, uma axis mundi (eixo do mundo), interno, que estrutura suas repesentações, vivências e sentidos internos, seja afetivamente, psiquicamente, fisicamente ou espiritualmente. A esse eixo doador de sentido o psicólogo suíço Carl Gustav Jung denominou self, termo cuja tradução mais utilizada na lingua portuguesa é "si mesmo".

O Projeto Arquetelos

Arquetelos é um neologismo criado pela união dos conceitos gregos 'Archaio' - antigo, primitivo - e 'Téleios' - perfeito, acabado. Um neologismo que comporte, em uma mesma palavra, um conceito de início e de fim, uma compreensão simbólica.

O projeto Arquetelos se estrutura por grupos de estudos formados por pessoas que tenham interesse em desenvolver temas que perpassem as áreas de mitologia, psicologia junguiana, história das religiões, antropologia, sociologia da religião, psicologia social, teatro, design, artes plásticas, comunicação, ciências humanas ou exatas, através do prisma simbólico e interpretativo da mitologia. 

Proposta do Arquetelos
A proposta do Arquetelos é familiarizar os estudantes ao universo mítico, simbólico, psíquico e antropológico através de estudos organizados em pequenos grupos com a proposta de criação de teses e publicação de trabalhos on-line e em livro.

As duas regras para publicação
Os interessados em publicar trabalhos através do Arquetelos podem fazê-lo individualmente ou em grupo, de acordo com a conveniência pessoal dos envolvidos.

Regra 1.
É INDISPENSÁVEL que os trabalhos que se disponham a serem publicados sejam registrados por seus autores no Ministério da Educação e Cultura (MEC; registro ISBN), para a proteção dos seus respectivos direitos autorais.

Regra 2.
Todos os trabalhos serão submetidos, preliminarmente, à avaliação dos demais membros do Arquetelos. Essa apreciação não possui caráter avaliatório, apenas procura estruturar e facilitar a troca de experiências entre os membros além da revisão e aprofundamento dos trabalhos.

Como publicaremos on-line?
O Arquetelos publicará os trabalhos registrados por seus autores no blog www.arquetelos.blogspot.com, patrocinador da iniciativa, dentro da seção "Caixa de Pandora". Essa publicação será semestral e seus fechamentos serão efetuados até os dias 25 de janeiro e 25 de julho dos anos correntes.

Como publicaremos em livro?
O Arquetelos será apresentado a diversas editoras e verificará seus respectivos interesses em publicar, sob a forma de livro impresso, os trabalhos de seus integrantes. Estamos sempre abertos a sugestões e parcerias. (Para sugerir uma editora ou uma parceria institucional, favor clicar em "comentários" ao final desta postagem).

Os grupos
O primeiro grupo do Arquetelos será formado por no máximo 4 integrantes oriundos, preferencialmente, de áreas diversas do conhecimento, ou seja, com diferentes formações acadêmicas e experiências. O segundo grupo também será fechado com 4 participantes seguindo, preferencialmente, a mesma orientação acima. Os demais grupos que, esperamos, vierem a existir, terão apenas que associar-se ao Arquetelos para terem seus trabalhos publicados - on-line ou via livro impresso - após apreciação pelos demais membros.

As reuniões
As reuniões de estudos dirigidos do Arquetelos são efetuadas semanalmente em Copacabana, na rua Santa Clara, número 50, sala 405, sendo o primeiro horário de 8:00 às 9:40 da manhã e o segundo de 10:00 às 11:40 da manhã também.

Os estudos dirigidos
Segue, no blog (siga barra de rolagem à direita até o final), uma relação primária para a familiarização dos interessados nos temas míticos. Essa relação é uma sugestão do criador do projeto Arquetelos e não tem caráter definitivo.

Qualquer grupo do Arquetelos tem total autonomia para estudar quaisquer livros ou quaisquer temas que lhe forem concernentes. Só atentamos ao fato de que as publicações on-line e impressa necessariamente devem ser íntimas com a proposta do projeto Arquetelos, ou seja, desenvolver temas, teses e trabalhos que perpassem os domínios do mito.

Criação e uso da biblioteca e troca de livros
Cada membro de cada grupo do Arquetelos, ao ingressar na iniciativa, fará uma lista dos livros que possui (vide "Experiência Registrada" seguindo a barra de rolagem no blog até abaixo) para que possamos efetuar trocas, empréstimos e outros. Dessa maneira a troca de saberes e informações será facilitada e melhor estruturada.

Sugestão Arquetelos: O empréstimo de livros deve ser efetuado sempre com a anotação do telefone, e-mail e endereço das partes envolvidas.

Postagens no blog
Cada membro do arquetelos terá liberdade de publicar postagens no blog, sendo, para isso, necessário apenas entrar em contato com o administrador através do e-mail
contato@institutoatena.com para receber as devidas instruções.

O deus que existe em mim saúda o deus que existe em você

Sejam bem-vindos!
Renato Kress
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